quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Remeniscente

   Viajo para ir ter contigo, não me importo com a distância
percorrida, apenas me interessa estar novamente perto de ti,
sentir-me novamente completo ao ser recebido por ti,
sermos nós, novamente o ser perfeito,
apesar de toda a miséria inerente a cada uma das nossas
individualidades, sabendo que a outra metade
estará sempre pronta para lamber as feridas
que o mundo causou no outro.

   Chego perto de ti, olhas-me e dizes-me,
tás diferente, não sorris nem fazes cara feia,
apenas constatas friamente o vazio à tua frente.

   Revelas-me que eu já não existo e apenas sou um fantasma,
o meu coração que morreu em ti é agora um fantasma,
ainda bate em mim, como se tivesse vivo, acendes um cigarro,
ouves as minhas palavras como se fossem apenas memórias remeniscentes.

   Sais da minha companhia, fico sem forças,
vejo-te afastar pelo espelho a saber que sou um fantasma,
quero sair do carro e ir atrás de ti e abraçar-te para sempre
mas apenas sou um espectro sem toque nesta realidade.

   Tenho que conduzir todo o caminho de volta, parece-me infinito,
paro o carro algumas vezes para tentar respirar,
a parte que ainda se sente viva não quer abandonar a tua presença,
sinto-a morrer, a agonia de uma criança a sofrer todos os males deste mundo.

   Não consigo deixar de sentir pena por nós e choro a nossa inocência perdida.

1 comentário:

Red Angel disse...

No seguimento das tuas palavras:

http://www.youtube.com/watch?v=UX658NMRQ9w&feature=player_embedded#!