sábado, 4 de dezembro de 2010

O Mosto Selvagem



A manhã acordou envolta numa neblina fria,
dança pelas ruas da aldeia um aroma,
talhas cheias de uvas em fermentação.

As primeiras chuvas trazem sempre consigo o cheiro de renovação,
do interior da terra impregnada de coisas transformadas.

O perfume do mosto selvagem, ele fica em surrateira suspensão,
sente-se no interior levitante de qualquer esperança vã,
insiste contra um consciente já fragil de vontade.

Foi lá que os homens se encontraram e lá se perderam,
encontraram-se uns com os outros,
perderam-se dentro deles mesmos.

Os sons dispersos, as musicas gastas em ouvidos cheios de barulho,
hoje fomos todos tentar novamente mais um acordar frustrado
de uma adolescência já usada e queimada numa qualquer noite esquecida.

O peso das coisas sente-se sempre nos pés fincados
na terra dos passos, a origem do pensamento,
caminham um após outro na mais arritmica realidade.

Aprendemos,
talvez, que possivelmente a divina concepção de um perfeito paralelo
seja a prova da nossa infinita imperfeição.

Em primavera pré-invernil sinto o doce repousar.
em pensamento levito até as folhas verdes que não estão ao meu alcance.
para cair mais tarde até ao chão onde repousam outras tantas já desfeitas.

Apenas os bichos-da-seda se hão-de queixar pela sua falta.