quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ParaLisa

Se me deitar no chão com olhos postos nas nuvens
que se arrastam, se formam e se disformam lá em cima,
imagino-te a seres tu mesma.

   Com as palavras que agora escrevo digo-te ideias
contidas num universo interior, sitio onde estas mesmas
palavras possuem uma vida real, realidades paralelas,
mas ainda assim, tão possíveis que estão neste preciso
instante a acontecer.

Existe uma casa, existe lá dentro um homem e uma mulher,
existe uma mesa, existe incenso a arder fumos,
existe um principio infinito, tão infinito que nenhum dos dois
se atreve a antever ou, tão pouco, a antecipar seja o que for,
ambos sabem reconhecer a luz que se acende dentro de cada um
deles, a luz é frágil, na parte inicial de uma vida, seja ela qual for,
tudo começa simples e delicado, o que no principio é
uma singularidade rapidamente se transforma num universo
novo em expansão, o medo que o escuro e uma partícula de luz
provocam não são de temer quando existem  luzes ténues
de pequenas velas no interior dessa singularidade,
luz que é trémula mas no entanto consegue embalar mais
que apenas uma consciência.

Um dia estarei num universo não contido...

 


sábado, 3 de novembro de 2012

Eu e a Chuva




   Durante o voo vertical as nuvens transfiguram um novo
alcance longínquo, os pássaros podem ser tocados
em pleno céu, as suas asas acariciam os ventos e as
brisas e todas as coisas que passam aqui em cima,
agora vejo que nesta altitude as nuvens baixas
estão à mesma distancia quando vistas do chão,
causam uma vertigem inversa.

   Existe um céu por cima do céu, existem horizontes
com outros horizontes, existem ideias que crescem e
amadurecem e cheiram e sabem a descoberta.

   Agora já não consigo entender a profundidade,
as nuvens que fazem sombra sobre outras nuvens
assemelham-se a montanhas num sonho passado
num planeta distante, antes de chegar ao chão
lembro-me dos teus olhos fixos nos meus
e das palavras que nunca dissemos.