segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As Pequenas Viagens

Deixa-me convidar-te para vires conhecer a minha casa,
o meu pai não vai lá estar,
vais conhecer a minha mãe e a minha irmã,
depois de as conheceres podemos ir passear apenas os dois.

Noite escondida por entre as núvens,
prédios pintados de tinta que saltou das paredes,
portas sujas de entrar, aqui não me reconhecem,
nunca me viram por cá, dá-se sempre o beneficio da dúvida
a um convidado, no meu caso, o maleficio, sendo eu um homem
convidado pela filha mais nova da familia.

Entro pela porta e fico marcado pela sujidade deixada
pelos que por essa mesma porta já passaram,
deixaram lá o seu mais forte rasto de personalidade, o medo,
deixa um cheiro de desconfiança muito próprio por onde passa.


Agora, já não somos nós que controlamos o decorrer das coisas,
nunca fomos, mas agora, certamente,
somos completamente controlados pelos comportamentos
sociais de solene ritual de reconhecimento,
que a etiqueta assim nos obriga.

O pai chegou e entrou altivo pela porta,
olhou-me apenas uma vez de relance como se já me conhecesse,
sorriu apenas para ele próprio e dirigiu-se á mulher e ás filhas,
elas cumprimentaram-no com medo e com um respeito submisso
pela incerteza de qualquer comportamento violento e impulsivo.

Em casa da Avó existem sombras de espectros que passam
sorrateiramente pela cozinha até á arrecadação escondida no escuro.

Metem medo pela estranheza que provocam
e vertigem de curiosiadade obscura.




Silêncio de cal branca caida no escuro frio do chão.



Lá fora.


Quente, sufocante, ascendente verão,
Sol a queimar desde a terra seca de pó até
á atmosfera de feno cozido servida num luar diurno.

Vestido de calor, caminho e respiro sofregamente
um ar saturado de um infinito de pessoas.

Fome de apetite, encontro insão de cortes
por laminas liquidas de sangue,
retratos de uma história acidentada,
antes de comer a carne temperada no prato
branco sujo, derramado numa limpeza ofuscante.


Espero por um estimulo que tarda demais em ser-me servido.


Confrontos de insignificancias,
população zero de divagação absoluta num nada composto de tudo.
Penso que tudo assume sempre alguma forma que os mantém algo satisfeitos.

O estomago aprecia sempre alguma confusão.

Entre o caminho da descoberta de um assassino
e o momento em que finalmente o encaro pela primeira vez,
existem traços escondidos entre as cinzas.

A que sabe a vingança?

O doce aroma que a antecipa seguido do sabor metalico de corrosão
nas narinas quando da sua final concepção.



Aviso, altamente tóxico!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Gentes


Estrada de pedra assente, calcada por quem passou por cima,
gasta por quem se arrastou sobre ela.

Entrelaçados invisíveis,
o nosso primitivo entendimento não consegue acolher numa única linha
o que acontece em todos os livros que já foram escritos, todos os pensamentos
que ainda não foram sonhados.

Começando mais uma vez pelo principio das coisas,
sendo criança crescida de barba e leve de pensamento,
uma folha verde seco no chão e uma ponta de cigarro ao lado,
por onde passou o fumo que bafejou algum pensamento com maior incerteza.

Pensamento suspenso numa caneta, carga cheia de desabafo,
isqueiro de benzina com cerveja preta, rapaz gordo de insegurança,
rapariga vaidosa de mulher crescida, mulher vestida de bata azul numa bicilceta.

Pedra entranhada na terra por sonhos já evaporados ao vento.