segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quarto Escuro


Era de tarde e chovia, olhou para a janela fechada
na casa onde sempre permanecera fechado,
isolado a lêr os espaços vazios do quarto,
lia nos pequenos vazios escuros sitios de rochas afiadas,
imaginava-se entre elas a tentar o quase impossivel equilibrio
para que não se ferisse nas laminas feitas de pedra,
escrevia como conseguia livrar-se de quedas vertiginosas e
aparatosas em que quase morria, sorria e deixava-se dormir
antes da chegada da próxima tempestade escondida.


Por trilhos de rochas afiadas, sem qualquer meio de suporte
ao equilibrio de um mero mortal que tente provar através
dos mais ousados mergulhos a impossível capacidade de nadar
através da mais impura água condensada de negro lodo e verde limo.



Apenas o singular medo de cair das alturas no mais profundo
desconhecido anseio, o trágico cair, temo-o com todo o meu mais
infantil ser feito de homem frágil que ainda quer brincar
o faz de conta que acontece durante o breve raiar de sol
em céu limpo e azul, no intervalo entre negras nuvens de tempestades.


Estou de volta ao novo principio,
sempre como se fosse o primeiro.


Enquanto saio dos lugares mais pertos e familiares
gosto de observar o vazio dos sitios menos vistos,
aqueles que fazem cantos com pouca luz, na sombra,
novos de desconhecido, eles conseguem fazer-me sentir
a mais solitária e completa percepção do que me rodeia
por dentro da minha existência menor, por dentro,
nos sitios que fazem cantos escuros e abstractos.


As sombras dançantes que celebram um fim próximo,
o fim próximo.


Estou de volta ao velho principio,
sou aquele que escreve dentro de mim em papel,
Eu, o ideal pensador que concebe a miragem do homem que nada teme.
Qual a côr da tinta com que escrevo,
em que papel feito de pessoas repousam as letras?