segunda-feira, 21 de julho de 2008

Laranja Fusco


Saio do quarto, deste quarto, em que sonho há muito tempo,
caminho pela rua, é quase hora do lusco fusco ao final do dia,
de oeste passa uma trovoada de verão e o sol reflecte lá a sua luz,
as nuvens, as árvores e as flores ficam com cores diferentes,
a hora azul com filtro laranja róseo que predispõe o reviver
de uma infância em que o idealismo ainda fazia parte dos
fins de tarde.


Curiosamente os melhores sonhos que tenho são pintados
por estas mesmas tonalidades, em vez das cores negras
que habitualmente os soberanam.

Verão quente, tempestade passageira de oeste que roça com gotas
mornas, como se nos quisesem contar o todo e sempre numa só tarde,
faz-me apetecer nutrir um estranho sentimento de nostalgia,
em que me faz sentir quase aflito por viver.

Como gostaria que na próxima tarde laranja rósea fosse possivel
reunir tudo aquilo que amo, para que me pudesse despedir
convenientemente de tudo aquilo que já não me pertence,
e a seguir, abraçar o que é passageiramente meu.

Volto para o quarto, este quarto, em que sonho
desde há muito tempo, quase demasiado tempo,
em que saio e volto a ele e pergunto-me
pelos estimulos que não possuo, por onde é que eles habitam,
se mais por dentro de mim, se mais por fora nas ruas,
não existe resposta concreta, embora seja a luz que esbate
na tempestade que passa ao longe que me faz querer sentir mais.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Permeável


Ao fluir com aquilo que me percorre, desde o mais profundo
ao mais minimo estimulo, entrevejo-me no meio de todos,
por entre todos aqueles que me rodeiam, passo e fico um pouco,
pelo mais superficial, pelos cabelos que cercam o pensamento,
trespasso através da pele que abraça a carne e viajo o interior.


Lá dentro encontro no cerne de cada coisa sempre o mesmo.


Pensamentos que analizam o espaço circundante ao raio sensorial,
os pensamentos que se escondem na sombra dos desejos,
que sofrem com o magnetismo da doce tentação,
que apenas é possivel de ser negada quando de intensidade insuficiente.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Proximidade


Esta noite uma nova ordem de pessoas manifestaram-se,
sangue novo, hoje reinicia-se uma nova fase lunar pela força,
de alguêm que não se julgue possuidor de uma certeza absoluta,
e assim, apresentar-ma-á.

Aproxima-se, personagem em trajes obscuros e longos de mandarim,
transporta consigo um engenho composto por três puleiros,
tapado por um pano castanho transparente, finamente bordado a azul,
sou abordado por ele com uma estranha proposta,

"Aproxima a tua mão, um dos residentes irá escolher-te."

Mergulho e sou arrastado, ao ter sido tocado,
vou até ao mais fundo de um abismo de um mar negro,
onde esvoaçam gaivotas em fogo e corvos marinhos,
o calor desaparece aos poucos, até qualquer morno conforto,
ser finalmente suprimido pela escuridão e gelo que por lá habita,
prontamente torno-me completamente singular,
passando a existir apenas dentro de mim próprio.

Lamento-me e por fim, calo-me para sempre.

Regresso quase ao mesmo momento,
as coisas jamais serão vistas da mesma forma,
o meu pensamento abrange uma nova percepção,
mais composta de terminais nervosos e mais desenvolvidos,
mais ao exterior da pele morta, passo a estar mais vivo por fora,
os estimulos passaram a entrar livremente, embora sem perturbar
a aparente apatia que continuo a dar em troca
de tudo aquilo que me é oferecido.

Agora sou disprovido de medo,
agora consigo voar por dentro de qualquer tipo de pensamento alheio,
dentro e sobre os homens.

O pacto consumado com o que se esconde na sombra do pensamento
escolhido desde a minha origem, acordado para ele desde o momento,
a invasiva aceitação a que os mergulhos no desconhecido obrigam.


Saio nú de dentro de mim e fluo em ti, agora já sei quem somos.