segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Segundos



Observei o meu reflexo num espelho velho
gasto de imagem em crescente absorver,
esta repercutida visão do invólucro da alma
e mais vi, tudo aquilo que quase senti,
olhei-me de soslaio em firme estátua
suja deste mesmo tempo que ainda há-de passar
e fazer-me querer quase viver.

Introspécto-o, ao vêr-me escondido nele.

Numa celebração geracional de existências sabidas
do anterior vivido e em quase aparente desuso ,
salto pra um modo que prenuncie tudo o que será,
ritualizamos os breves desejos em uníssono
pela mesa redonda de lâminas que nos ferem
pela proximidade tão primitivamente gravitacionada,
misturando os nossos sangues compostos de seivas
perfumadas de fluidos aprendidos.

Aproximei-me demasiado, de lingua sentida
e ao ficar contaminado por mais uma visão
embora alheia, em tudo passou a ser minha
reformulando o que está escondido dentro
com uma apresentação a mim mesmo.

Apercebendo-me que o tempo passa como doce veneno
e eu passo pelo seu efeito com ele, dentro dele.

Sempre dentro de nós, sempre dentro dele.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Nutshell


Divagantes nocturnos, somos
enquanto deambulamos pelo esquecimento dos outros
em busca do que se esconde lá dentro,
do mundo que mais se acanha em revelar os seus intentos.

Lá fora chove insensatamente sobre uma mesa vermelha,
as gotas de água que lhe caem em cima findam-se nela,
como numa ultima homenagem de mártir elementar.

Dentro de casa, as traves de madeira absorvem
a humidade a mais no ar, a luz das velas enaltece
a minha solitária presença com vultos de sombras
e luz amarela ardida, gosto de me encontrar
nesta casa perdida, ela está viva e convida-me
a sentar e servir-me dos seus cheiros de madeira
crescida de sombras de noite fria de inverno.

Leio a chuva que cai no inverno exterior,
cai separada em goticulas menores,
cada uma sozinha entre tantas,
vejo o capitulo da mesa vermelha,
a água aglomera-se sobre ela, dizem-lhe coisas parecidas,
cada uma com o seu discurso único de gota,
terminam todas concluindo no mesmo sitio,
sobre o vermelho, sobre elas próprias.

Como se entendessem no fim, que vêm todas do mesmo
único sitio de água, antes do inicio da sua queda combinada

Certo é o inverno frio dentro de mim.

domingo, 14 de outubro de 2007

Ontem




Tentei chegar a casa com bagagem de cadáver flutuante,
sob um luar que empalidecia as partes que mais sentiam
a hora aproximáva-se e ainda não tinha onde me sepultar.




Não me recordo de onde vim nem pra onde vou,
alguêm chama-me numa colina, alguêm que também
me parece andar a divagar, embora num modo mais confiante
daquele que eu sinto e vejo em mim, sigo atrás arrastando
o corpo desalmado e pálido de sangue.




Movemo-nos com sangue frio nos entrespaços que separam
as casas das ruas, o passeio de calçada dos que buscam e quase
nunca encontram o caminho dos não-escravos.




Encontro-te




Tu, num momento cheio de inesperado
fico como nunca fiquei dentro de uma parte
de mim que desconhecia existir na realidade
Querida, a uma distância de década existêncial
a uma distância encurtada a um mero nada.



Desconheço a melhor forma de agir, nunca tive que o fazer
sendo a única coisa possível, dialogar



Ontem

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Fada Verde





Inspiração de cor verde esmeralda,
misteriosa forma de êxtase que me
reconforta através de um doce dogma.

Sinto a influência de mim mesmo,
todos os estimulos vêm de mim
á minha volta tudo acontece sem
a minha presença.

Fundo-me com a fada-ninfa alucinogénica,
enaltece-me suavemente o ego, acariciando-me
com explosões de cores ricas e difusas,
atingindo estados de consciência em que
sorrio com a convicção de saber o puro
das coisas.

Serás sempre a mais fiel confidente.

domingo, 7 de outubro de 2007

Estrada de Traços




Percorro este caminho pela primeira vez
neste modo de condução igual a tantas
outras vezes, percursor permanente
atento ao que apenas é meu ao percorrer
o caminho dos outros nesta estrada de traços.



Viajo pensamentos recorrentes de alienação
reencontro velhos conhecidos, momentos de paz,
fugindo ao volante dos habituais tormentos
feitos de invasão e consequente enclausuramento
decorado de brilhos e de promessas vazias.



Como uma dança orgânica ensaiada
percorremo-nos nestes caminhos
sentindo uma próxima familiaridade
existêncial do conhecimento de tudo
aquilo que nos invade impiedosamente.



Encontro aquilo que procuro em alguns instantes
vazios, numa brisa marinha que vem de longe
numa gaivota sozinha, no movimento da água
das ondas e o seu soar quando recolhe ao mar
o harmonioso trepidar na areia molhada.


Liberto-me,

Desta complexa rede de falsas prioridades
através de uma sublime aproximação ás simples
coisas residentes que estão proibidas de entrar.











terça-feira, 2 de outubro de 2007

Redenção Rendição


Presa a um corpo quieto de vida, assim te encontrei
os teus olhos expressaram aquilo que apenas
nós dois entendemos, não foram proferidas
palavras, embora elas tenham sido tentadas


Numa vã tentativa de diálogo vociferado,
numa triste tentativa de distrações benditas,
ainda assim tudo o que tinha que ser ouvido
pelo coração fluio de uma forma plena


Plena de sofrimento no lamento do que foi e já não é,
cheia de partilha por aquilo que sempre foi puro e
insintivamente bom, e no fim foi o que restou de valor


O que a alma escondeu, o sangue disse.


Nunca te vou esquecer...!