domingo, 25 de maio de 2008

O Mal de Viver


Gotas cristaslinas, com brilho cintilante frio e cheio de vida,
que ainda de um quase estéril destilamento, transportam juras
de novos principios, sejam nas trevas ou nos breves olimpos,
de clareza profana e celestial num só.

Somos lobos, uivamos sempre ao esplendor do que reflecte na água,
choro da alma, grito sentido desta bizarra constante solidão,
aquela que todos os dias, sempre a alguma altura do dia,
seja ao encerrar ou ao abrir das cortinas feitas de palpebras,
seja num momento absoluto de surpresa, aquilo que nos invade
sem uma explicação alcançável pela nossa lógica pseudo-imortal.

Lobos que atacados somos pelas dentadas ferozes
do inverno exterior, estejamos sós ou em conjunto,
nunca conseguiremos morder com a mesma intensidade do frio,
e em matilha, a única alternativa é lambermos as feridas
em busca de algum alívio que apazigue esta interna e crónica dor.

O mal de viver que nunca cessa, o mal de viver que nos ensina
onde fica o sitio do nosso humilde lugar.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Nevoeiro Circunstancial


Vapor em suspensão, frescura hidrica que se mantém,
mistura fina de ar e água que contacta com cada poro,
hidrata a alma, obriga a ver melhor apenas o que está mais perto,
antes de olhar o horizonte, observo o chão que piso, assim dita,
inspira o mistico mundo dos sonhos quanto mais desperto estou,
quanto mais imagino o que está depois da cortina branca de seda.


Pela abstração ao que invade, complica e dispersa
minimalizo e simplifico.

Quem sou eu?
Porque pergunto por mim?


Hum?


Conduzo-me e introspecto-me, devo deixar a opinião alheia,
aquela que não a minha, aquela que nada se parece com o que é,
tenha o peso que devéras tem?

Como pesa, faz-me doer as costas tudo o que suporto,
porque o permito ser em mim, apesar de não o ser,
porque se o admito negado, pesa na mesma,
o próprio exercício interior tem a sua gravidade.

Permito mais um pouco, aquilo que for necessário,
até me atribuir na amálgama o meu papel,
porque enquanto permitir a opinião alheia só divido o meu tempo
com um mundo que jamais terá a capacidade de se importar,
tanto quanto aquilo que eu sei que tenho que me importar
até me conseguir alcançar, bebo mais um pouco
desta taça repugnal.


Quando quiser absorver todos no sentir que sentem,
que são ou que anseiam por vir a ser, deixo-me,
permito-me aceitar e impero sempre, naquilo que os fracos
e as minhas tristes putas tecem enredos de forma possante,
sem limites, ao alcance da vista composta de olhos pequenos,
tornam-se hibridos entre pessoas e mamiferos de pés caprinos,
que mijam ás gotas o seu veneno, outros, que na sua doce inocência
o lambem do chão sujo com ansia e gritam ao mundo que sabe a fél.

Admitindo isto, minimalizo e simplifico, e tenho a certeza
que o que existe depois da cortina branca, é sonho consciente
em que a escolha é senhora soberana, ninfa inspiradora paciente
e não hibrido de uma qualquer espécie que sopra aos ouvidos
com lingua bífida.