sábado, 29 de março de 2008

Ofuscante


Sangue fervilhante de novidade que celebra até amanhecer,
com corpo de sitio que permanece até ao próximo sol,
que abraça o novo dia com convicção daquilo que há-de vir,
sempre que tudo num nada conhecido queira vir.



Sol nascente que sempre há-de vir.



No corpo em que corre sangue novo, num mesmo sitio,
no tempo que antes ainda não se fazia antecipar,
o mesmo corpo, no mesmo sitio, num novo tempo,
em que decido e sou apenas aquilo que sei,
ainda não sou apenas aquilo que sei que posso ser,
sem qualquer poder soberano usurpado no comportamento,
eu, comigo, na companhia da tua doce luz.



terça-feira, 25 de março de 2008

Amanhecer



No caminho de casa observo árvores diferentes de tonalidade
talvez por a noite ter sido longa, talvez por o sentir
se fazer manifestar com o desinteresse de quem deixou de acreditar,
despreocupação que demora sempre algum tempo a aceitar,
o tempo que leva uma vida, quanto tempo leva uma vida?




O verde da folhagem das árvores é de uma côr mais seca,
como troncos, elas estão comigo nestes amanheceres,
porque normalmente tento aceitá-las como elas são e não consigo,
fazendo-me fechar ainda mais na minha auto-repulsa,
mas neste ultimo caminho senti-me com as árvores,
em quietude, partilhá-mos o mesmo silêncio.




Por vezes sou apenas uma árvore de seca folhagem
que não sabe que está prestes a cair no alto do monte
tendo apenas a pista de um explicito desenraizamento
que desde sempre fez parte de mim, e me permite errar.










sábado, 22 de março de 2008

Auto-Flagelação Electrónica


Monotons de notas sintéticas de uma influência adolescente
jogada com ante-mão de atenta missão revoltada,
nos primeiros vislumbres desta sociedade amordaçada,
já faziam antever a evolução de uma maturidade
que seria por uma força invasiva tentada no marasmo
que até certa altura ainda podia ser desligado num simples botão.


Interruptor que finda e reinicia sempre que desejado
que controla este jogo a qualquer hora jogado.


Uma existência simulada, não mais intensa que a verdade vivida
apenas mais clara de propósito e mais brevemente disprovida,
do substracto inerte que apenas um enorme nada oferece.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Doce Experiência




Seleccionados os escolhidos, por um credo desconhecido
embarcámos no aparelho que nos levaria á ilha nova,
era sabido que um grupo teste lá permanecia,
apenas nos foi dito que a invulgar aventura era para nós.


Em ilha povoada de novo sangue, seiva escolhida independentemente
de qualquer caracteristica fina ou vulgar que pudesse ser enunciada
num exterior dérmico observável, chegámos, fazemos parte
deste segundo grupo que iniciaria esta sociedade teste na ilha nova.


Partimos da terra conhecida e farta de tudo com a sensação
de aventura, rapidamente, á chegada, deparámo-nos com
a graciosa e mórbida armadilha que nos tinha sido tão docemente
agendada.


Sitio de putrefacta loucura, que mal firmámos os pés,
em terra morta já nos viamos em sobrevivente instinto
pra tentar perceber o porquê, não pela nossa sobrevivência organica,
mas pela humanidade lógica existêncial que nos restava,
numa razão que nos foi desmembrada com lámina enferrujada
suja de sangue negro de alguêm que sonhara momentos antes.

























terça-feira, 4 de março de 2008

Alto Voo


Alternativamente em suspensão extaseante,
absorvo todos no tudo que se permite a ser,
noite saturniana, noite minha que tão bem sabida,
experimentamos todo o sentir do conhecimento lunar.

Somos tudo aquilo que ao sol nos negamos a ser,
deixamo-nos ser aquilo que desconhecemos,
ansiamos e tememos arder nesta breve
e eterna combustão que queima as coisas
a que sempre nos negámos a ser.


Porque receamos a nossa própria permisão
sendo nela residente a chave da nossa mesma
libertação.