segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Fui ter contigo


Esperei por ti como faço sempre, sentado no banco do condutor,
indeciso que frequência de rádio ouvir, com a minha atenção dispersa
devido á espera que parece ser sempre interminável,
entretanto faço, sem descanso, zapping na rádio,
como se a culpasse de alguma forma pela minha impaciência,
passam vinte minutos que contei um a um no relógio digital e chegas,
chegaste, vejo-te a aproximar pelo espelho,
analiso cada passo que dás na minha direcção,
o que me contam eles antes de chegares perto de mim, tento não fazê-lo,
mas olho-os e penso no que me poderão eles dizer.




- Olá.

- Olá.

- Tens sono?

- Não, estou cansada de subir as escadas do castelo.




Entras no carro, e sentas-te ao meu lado,
olho para ti, para a forma como estás sentada ao meu lado,
de corpo relaxado, numa postura despreocupada, sem apetite
de sentir-me ao teu lado, sem saber muito bem o que pensar de nós,
não aceitando que este seria o nosso ultimo encontro,
a ultima vez que nos iríamos ver,
não permitindo qualquer outra colisão de pensamentos
enquanto olho com a cabeça baixa as pernas descansadas,
beijas-me,

beijamo-nos

Esquécemo-nos de que fomos antes e suprimimos qualquer depois,
sem te ter explicado todos os nossos males que nos atormentam
dentro de mim, apenas dentro de mim, o orgulho,
aquele que é apenas o meu,
que permite imperativamente que só me veja a mim,
ainda o mesmo egocêntrico sentir.



Agora sento-me, depois de ter dançado contigo,
continuo a aguardar pelo som dos passos que me façam,
novamente sair de dentro do mais sedento pelo seu próprio reflexo,
o puro narcisismo que respiro pelos poros.
Conduzo o carro até algum sitio,
até a algum sitio de ninguêm, apenas nosso.

Deito-me no tapete dourado,
vejo as nuvens que passam por entre os panos esticado
por cabos de metal, nuvens que passam todas no mesmo movimento
leve de teias de água, são pequenas e seguem-se umas ás outras
ou sozinhas, ou em perfeita manada, e eu olho-as de alto,
sozinho no tapete dourado, a ouvir musica de ritmo cadente,
citaras que vibram por cima do som de longínquos tambores,
apenas dentro da minha existência, sempre que fecho os olhos
e escuto, e vejo, e sinto apenas o que está dentro.

Sinto-te e sei a tua suave presença.

2 comentários:

DarkViolet disse...

O último encontro cujo amaldiçoa de saudade a lembrança. Por vezes acolhedor, por vezes sem sentido.
A espera de um tempo exacto.. agitação. O tempo que do tempo já não tem escadas. Chega o momento de partir, saber renascer para gritar na escuridão que existe luz no interior de cada um...

Maldito orgulho que devora e não deixa voar

aWhiteLie disse...

A espera impaciente de sempre e que nunca voltará a surgir. Ambos sem apetite de vontades distintas e iguais. Contradição?
A espera impaciente que passou e que não sabe o que espera, sem apetite.
Quando sais, quando voltas para trás perdeste alguma coisa ou sentiste-te livre?
A resposta é o sempre do nunca.