sábado, 15 de dezembro de 2007

Queda


  Nesta ilha de metal, sozinhos de todos, existimos,
dentro dela tentamos sentir o que dentro quer sair,
fugimos os dois em gelo falso, do grupo que nos insiste
converter à fria mortandade, por todos aceite e enjoada,
colocámo-nos em prancha de abismo, enquanto eles sorriem
em matilha, abraçámos o nosso mundo e saltámos um com o outro.

  Demorámos o nosso tempo a cair, breve tempo,
durante esse espaço amámo-nos como pudémos
quase que durou o suficiente pra ser uma eternidade
mas foi pouco, fomos fugazes no querer do nosso espaço.

  Base de suporte liquida, de amena viscosidade
onde viriamos a repousar o pensamento escuro,
foi berço de crescimento primário do homem,
com casaco de veludo sanguíneo e de outras vestes
de cores coalhadas, todas a acabar no mais nefasto negro.

  Homens, criados de todos, para todos
Senhores de tudo, criados por todos em tudo
Dentro de recipientes de vidro, individuais,
completos de homógeneo distorcido de palavras


  Nadámos no lago onde caimos juntos até uma gruta,
no seu interior fomos separados por uma cortina de água,
o chão sobre os nossos pés abateu-se, ficando um vazio,
flutuamos naquilo que ainda resta de nós, o vazio absorve,
o vazio dispersa o que resta de nós dois, sem nunca findar,
apenas dispersar até quase sair da visão colorida.



  Vôo o mais que posso, com todas as minhas crenças
forço-as ao limite de quase fúria orgulhosa, saio da gruta,
sobrevoo o lago, sobrevoo os homens que senhoriam,
admiro-os com pesar, eles ainda não entendem a altura,
descendo a pique até á gruta, a escuridão dela acalma-me
passeio o seu interior e faço dela o meu verdadeiro lar.






1 comentário:

Sofia disse...

Lembrou-me um título de algo que li há pouco tempo... "A possibilidade de uma ilha" de Houellebecq.
O negro nefasto acaba por ser um porto seguro no meio do caos.
***