terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Vila de Frades
Duas laranjeiras em fronte do rústico portal
entro adentro da catedral de talhas de doce vinho
encontro tinto sanguíneo, branco e mestiço
bebo um pouco de cada um, muito de algum
sinto o estar de Baco a subir a minha cabeça.
Caminho entre estes portais em passo compassado,
ao ritmo do cantar, ao ritmo dos nossos corações,
somos muitos irmãos, somos um, o primogénito de Baco
em trajes de uma roma antiga fermentada em barro cozido.
A manhã vem breve, o sol seguinte faz iluminar
por trás de um muro de nuvens, fazendo parecer
uma longiqua montanha enevoada, o sitio de repouso
para onde irão, no fim, estes espiritos Dionisicos,
até nova evocação, incerta de data, garantida de promessa.
No corpo onde ardeu o etílico espirito, corpo de combustão
onde se queimam as ideias, até ás cinzas, de onde renascerá
tudo aquilo que for querido e desejado.
Por entre portais decorados de árvores de frutos, quer doces
como finas laranjas, quer amargas como verdes azeitonas.
Aceitamos esta invernil combustão que, ao arder, aquece ou consome
pelo melhor do coração.
sábado, 15 de dezembro de 2007
Queda
Nesta ilha de metal, sozinhos de todos, existimos,
dentro dela tentamos sentir o que dentro quer sair,
fugimos os dois em gelo falso, do grupo que nos insiste
converter à fria mortandade, por todos aceite e enjoada,
colocámo-nos em prancha de abismo, enquanto eles sorriem
em matilha, abraçámos o nosso mundo e saltámos um com o outro.
Demorámos o nosso tempo a cair, breve tempo,
durante esse espaço amámo-nos como pudémos
quase que durou o suficiente pra ser uma eternidade
mas foi pouco, fomos fugazes no querer do nosso espaço.
Base de suporte liquida, de amena viscosidade
onde viriamos a repousar o pensamento escuro,
foi berço de crescimento primário do homem,
com casaco de veludo sanguíneo e de outras vestes
de cores coalhadas, todas a acabar no mais nefasto negro.
Homens, criados de todos, para todos
Senhores de tudo, criados por todos em tudo
Dentro de recipientes de vidro, individuais,
completos de homógeneo distorcido de palavras
dentro dela tentamos sentir o que dentro quer sair,
fugimos os dois em gelo falso, do grupo que nos insiste
converter à fria mortandade, por todos aceite e enjoada,
colocámo-nos em prancha de abismo, enquanto eles sorriem
em matilha, abraçámos o nosso mundo e saltámos um com o outro.
Demorámos o nosso tempo a cair, breve tempo,
durante esse espaço amámo-nos como pudémos
quase que durou o suficiente pra ser uma eternidade
mas foi pouco, fomos fugazes no querer do nosso espaço.
Base de suporte liquida, de amena viscosidade
onde viriamos a repousar o pensamento escuro,
foi berço de crescimento primário do homem,
com casaco de veludo sanguíneo e de outras vestes
de cores coalhadas, todas a acabar no mais nefasto negro.
Homens, criados de todos, para todos
Senhores de tudo, criados por todos em tudo
Dentro de recipientes de vidro, individuais,
completos de homógeneo distorcido de palavras
Nadámos no lago onde caimos juntos até uma gruta,
no seu interior fomos separados por uma cortina de água,
o chão sobre os nossos pés abateu-se, ficando um vazio,
flutuamos naquilo que ainda resta de nós, o vazio absorve,
o vazio dispersa o que resta de nós dois, sem nunca findar,
apenas dispersar até quase sair da visão colorida.
Vôo o mais que posso, com todas as minhas crenças
forço-as ao limite de quase fúria orgulhosa, saio da gruta,
sobrevoo o lago, sobrevoo os homens que senhoriam,
admiro-os com pesar, eles ainda não entendem a altura,
descendo a pique até á gruta, a escuridão dela acalma-me
passeio o seu interior e faço dela o meu verdadeiro lar.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Dentro do Tempo
Nasci num tempo em que tudo era de todos.
Num tempo em tudo era de todos os que ousassem sonhar,
num tempo em que o próprio tempo tinha uma outra dimensão,
dimensão que se fazia sentir diferente nas pessoas, o acordar
dimensão que se fazia sentir diferente nas pessoas, o acordar
soava diferente, com o galináceo que sempre admirava o primeiro sol,
o caminhar que era mais manso e compassado de introspecções
puras e sabidas no sofrer, sofrer que ensinava activamente e que
nos mantinha nos nossos humildes lugares.
Tempo em que pensava que não tinha nada, e enquanto o fazia,
de barriga vazia caminhava o verão sobre a estrada de terra e pó,
de lama e ervas rasteiras, nos frios e chuvosos invernos,
ao atravessar pequenos ribeiros, observava os pequenos afluentes
ao atravessar pequenos ribeiros, observava os pequenos afluentes
que os formavam, que nos ensinavam com um pouco de pão duro,
um pequeno pedaço de toucinho amarelo de intenso ranço,
um pequeno pedaço de toucinho amarelo de intenso ranço,
concentrado de amargo.
Sempre no mesmo modo miserável,
de roupa rasgada e descalço de animo arrastado
motivado apenas por aquilo que existia dentro,
sem influências exteriores, sem vidas de televisão, sem máscara
sem falsos profetas que simulam estender a mão
sem falsos profetas que simulam estender a mão
fingidamente calejada, sem exemplos modelo daquilo que seria
o ideal e o mais alto saber viver.
Sem a masturbação social que hoje existe,
que em tudo cria um querer ser.
Um dia quis ter mais, ter algo que me elevasse um novo estado
que me desse mais soberba, e assim invadi-me com ideias
senti a minha própria invasiva grandeza, como já a sonhara,
como todas as outras impiedosas, e sempre cruéis,
tomadas territoriais, com o sabor do aço na boca
o sangue a ferver por todo o corpo.
Coroei-me de grande e único senhor
de tudo o que a terra haveria de dar,
e tomar através dos altos céus, das profundas águas
e tomar através dos altos céus, das profundas águas
do infernal fogo que, através dele, haveria de purificar e imperar.
No tempo em que tudo era de todos.
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