quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Submersos

  Enquanto chovia lá fora ela estava sentada no chão,
dentro da pirâmide de vidro, ela olhava para o mapa e
pensava noutra coisa qualquer, eu tirava fotografias
às gotas de água que escorriam pela pirâmide,
ela inventava coisas pra fazer, talvez,
eu olhava a chuva a cair, fotografei um casal de adolescentes,
que lá fora, debaixo da chuva abraçados não se importavam,
abraçados um ao outro e abraçados ao mesmo tempo pelas
gotas que lhes caiam em cima, sentei-me ao lado dela e
mostrei-lhe a foto, sorriu-me.

  As núvens de chuva passariam e iriam dar-nos a oportunidade
de sair sem nos molharmos, o estado líquido que nos fluia
e misturava já era da profundidade de um oceano.

  Era a véspera do ultimo dia daquele breve tempo em que
tivemos juntos, os silêncios que ocorriam eram a saudade
já a magoar-nos por antecipação, sugeri-lhe irmos para casa,
não me estava a apetecer conhecer mais daquela cidade,
ansiava por voltar ao universo onde poderiamos
pertencer um ao outro, à torre, sem a distração de outras pessoas
ao nosso redor, sem o pretensiosismo que era a beleza
daquela cidade face à nossa intimidade.

  Ainda hoje não sei classificar a imensidão do que senti,
mesmo passado este tempo, demasiado e nenhum,
mesmo sabendo que a vida continua, de alguma forma,
e se disser que foram os momentos mais completos
que alguma vez vivi, não será ousadia, mas sim
reconhecer apenas a verdade na sua forma mais humilde e pura.

  No dia seguinte,  no avião, a contemplar o pôr-de-sol
que durou a viagem quase toda, nas núvens e nas núvens,
duplamente, triste mas feliz, completo, pensei,
se o avião cair neste momento, encostar-me-ei e
irei sorrir de olhos fechados, sorri-lhe.


1 comentário:

Red Angel disse...

Sentir saudade é preferível do que não a sentir, embora doa, às vezes até fisicamente...

Mas se a sentimos é porque vivemos algo que nos marcou positivamente. É-nos impossível sentir o esse "mau" sem sentir o “bom” antes...

É a nossa história!