sexta-feira, 2 de abril de 2010

Leve


Espero por mim.

Com uma faca bem afiada na mão direita
e um livro por escrever na outra,
com visão fotográfica objectiva em riste,
guardo as imagens oferecidas à minha frente,
câmera céptica de película orgânica sensível.

Ele esconde-se sempre dentro de um de nós,
já o tinha encontrado em duas pessoas distintas,
semelhantes apenas na sua única e secreta manifestação
deturpada de horror.

-Não te preocupes, eu vou sempre proteger a tua beleza
imaculada de ninfa, com pele frágil de neve, volátil de vontade,
minha testemunha espiritual.
O doce aroma emanado pelo teu corpo é o ar que nutre todo
o bem e mal adormecido no berço do meu corpo.
Respiro-o e amo-o tanto quanto o odeio,
como um príncipe de umas tenebrosas trevas, vindo em conquista
pelos meus mais elevados ideais megalomaníacos.
Enquanto o teu ar for o meu, serei para sempre senhor e mestre
de todos os meros mortais satélites a esta nossa simbiose.

A tua beleza e a minha malvadez, as tuas tentações que favorece
tanto o meu medo como a minha coragem.
O teu medo, a minha coragem.

O meu medo, a nossa coragem.

A tua força inebriante que atrai os meus assassinos.


O coachar esquizofrénico dos anfíbios acalma o fervor
das minhas incertezas, partilhamos a mesma aflição,
oiço e sinto a calma proveniente de uma resignação
por um objecto há muitas gerações esquecido.

Deito-me na cama feita de lençóis de todas as coisas
e adormeço sozinho, espero e durmo pela manhã seguinte
que se aproxima cada vez mais sofregamente envolta
numa estranha leveza.