terça-feira, 8 de abril de 2008

Espectro


Depois de terminar outra manhã, fim de mais uma lâmina matinal,
ela é sempre a primeira a despertar, sinto-me bem com o seu frio,
corte de aço afiado que não questiona, nele apenas é o fino corte,
aquele que impera.


Deixo de me interrogar acerca de mim, do meu estar,
do meu pra onde ir, acontece apenas por alguns instantes,
são breves, patrocinados por uma aérea sonolência,
momentos em que consigo alguma plenitude silenciosa,
como que em justa admiração por algo concluido.


As coisas que surgem acompanhadas pela solidão,
os pequenos pensamentos de tão natural insatisfação,
chegam como gélidas gotas de chuva numa manhã de inverno,
daquelas em que rapidamentente se vislumbra como vai ser
o resto do dia, nebulosidade constante que permite.



As rajadas de vento que vagueiam no exterior,
os ramos das árvores fazem dançar a folhagem nas extremidades,
em inocente desespero, são invadidas como que por espectros,
invisiveis fantasmas de noivas solitárias que trespassam tudo,
na sua aflita procura por um pacifico altar sagrado que não existe.


Desvanecem, desapareço um pouco também, necessito,
o silêncio provocado, provoco o gratuito aceitar do cansaço,
por um lado não o deveria permitir, mas ainda continua,
parece-me vital, sonho e desperto mais uma vez.

1 comentário:

EyeOfHorus disse...

A solidão nunca faz uma "festa" a dois. Tem o dom de invocar tudo o que um dia julgámos adormecer.
Pode ser o despertar de um sonho conhecido como sobrevivência.
Black nº1 kiss