sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Preciso

 

 De novo ausente, acordei com um pé a dar um passo tímido
para fora daquele sonho, quando despertei reparei que estava ausente
desta realidade, sentei-me na cama enquanto esfreguei os olhos numa
tentativa qualquer de alguma coisa que me estimulasse a consciência,
enquanto esse processo decorria levantei-me e vesti-me
de roupas à pressa, o sol já estava a espalhar a sua luz no horizonte
coberto de névoas rasteiras e os gatos corriam pelo quintal
numa urgência final de noite já acabada, com a mesma pressa
com que eles pulavam por cima dos vasos de flores
assim saí eu de casa.

   No fim da linha quando a descoberta foi a viagem
tudo o que teve de arder, ardeu, agora é apenas lume apagado
com algumas brasas fantasma encobertas pelas cinzas.

   Uma espera infinita, que ridículo seria se assim fosse,
quase que me faz rir, quase que me provoca alguma coisa,
afinal a jovialidade sempre foi casada com a simplicidade.


1 comentário:

LiSa disse...

" negrume

Não durmo vai para três dias. Não tenho sono. Apenas aquele cansaço soturno que embala e combale. Que se arrasta, sombrio e melancólico. Como se o tempo detivesse a vontade de entregar ao presente o estatuto de passado. Sinto a aridez deste vazio entranhar-se-me nos ossos como um punhal a rasgar a carne. Há um nódulo rugoso que cresce destemido cá dentro, impedindo o ar de varrer a alma e oprimindo a necessidade de respirar. Sufoco. Sem que explosão alguma desfaça em pedaços este pesar lacerante.

Não durmo vai para três dias. Entrego-me à estranha terapia de gastar horas a rever episódios da memória. Processo letárgico e tardio em que me assumo como alvo e motivo. Sei de cor todas as partículas desta história a que a humanidade denominou de existência. E, mesmo assim, procuro nas gavetas emocionais a reinvenção. Compreender experiências para trilhar caminhos. Descodificar as causas para atenuar a adversidade dos efeitos.

Neste carrossel de vitórias inglórias e abismos torrenciais, há dias dolorosos. Daqueles que parecem reter tempo e espaço numa cápsula isenta de coerência ou sanidade. Daqueles em que o caminho parece ser uma estrada sem rumo, trilhada por trilhar neste passo sonâmbulo para lugar algum.

Vão para três.

Em todos eles procurei a ausência de pensar. Na ânsia de que o isolamento me libertasse esqueci-me de um pormenor essencial. Carrego-me sempre comigo. E é aqui, entre os fragmentos desde corpo, que residem, em habitat natural, todos os fantasmas."

A tua escrita entra-me pelos poros.
Abraço.