terça-feira, 2 de agosto de 2011

Andy Warhol


Lata de conserva aberta, em movimento sobre quatro rodas a
escaldar, cheia de quatro pessoas, com uma película de sol a
cobrir a superfície de contacto maior
feita de pele e de escalpes, desconcertadamente,
o vento arrasta os cabelos e as ideias
para lugares menos habituais.

   Vinho e gin tónico entre viagens rurais,
por dentro das terras mais esquecidas pelas pessoas
mais sedentas pelos estímulos que o contacto
com o sangue repleto de novidade fazem sentir,
terras nunca esquecidas pelo tempo de encher e servir
sempre mais uma rodada de vinho e de pão.


   A ideia imatura de quem nunca teve que mexer
nos verdadeiros interiores palpáveis, feitos de tecidos
ensanguentados, com o seu odor e textura muito próprios
que inspiram uma concreta finitude orgânica,
de quem não sabe reconhecer que antes de uma verdadeira
natureza intelectual, existe sempre sangue, carne e ossos,
julgando que as ideias nascem em lugares insípidos
e são posteriormente servidas, com todas as cerimonias,
dentro de bandejas de prata, a utopia do kitsh
é uma coisa curiosa, somos todos animais
defecantes das merdas mais repugnantes
e, no entanto, aspiramos à pureza imaculada de seres divinos.


   A imagem de um talhante a proferir ideias poéticas
e filosoficamente profundas, enquanto cheira uma rosa branca,
faz sempre rir o aristocrata que alguns ostentam na sua mais implícita natureza.

1 comentário:

Anónimo disse...

Dissecar o corpo, os tecidos, a condição humana e a vida. Imagens nuas, cruas, desprovidas de humanidade e plenas de animalidade. Um surrealismo atroz e um pouco perturbante. O abalo e a sensação de incómodo no leitor. A vontade de devorar as palavras e os textos e os sons.
Adorei. Obrigada.
Joana