quarta-feira, 23 de março de 2011

No final da espera


Necessito de te ter mais perto.

As coisas inevitáveis entram sempre em rota de colisão,
algumas decididas por nós, outras surgem de surpresa,
acidentalmente.

Numa noite em que tudo ardia no centro da povoação,
em que tudo estava coberto pelo frio mais gélido que
possa ser sentido no centro do interior,
o calor libertado aquecia aqueles que circundavam
em contemplação da madeira transformada em brasas,
com labaredas a dançar desconcertadamente,
acenando em desespero para a lua de inverno que as olhava.

Noutra noite senti o peso das pálpebras em dor,
os meus olhos ansiavam por uma hibernação
que nunca irá chegar em tempo certo,
a necessidade de uma definição é sempre
o tema principal das esperas,
nessa noite parecia-me dia irradiado por um sol
reflectido numa lua.

Pensei.

A mil à hora, tudo passa numa velocidade terminal,
todas as coisas simultaneamente a acontecer,
muitas delas passam por nós em sentido oposto,
são apenas vislumbres arrastados, luzes disformes em fuga,
passam por mim em tangentes quase desafiadoras, quase.

Tempo...

Numa noite necessitei de te ter muito mais perto,
ao saber verdadeiramente que nunca mais te iria ter.

Descobri que te amava mais que tudo ao deixar de te ter.


No final apenas sobrou a insatisfação, a tristeza
e a espera por um lugar belo deu lugar a um vazio maior,
um lugar repugnante, onde a morte sorri a todos.

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